Na chamada época da “Globalização” nos pegamos meio que perdidos, desinformados e sem rumo no processo do fazer cultural. Percebemos bem isso, quando observamos o que aconteceu no “famigerado” Festival da “Música Popular Brasileira” patrocinado pela Rede Globo de Televisão nos últimos anos; no Programa televisivo denominado “Fama” e um programa parecido do SBT (Sistema Brasileiro de Televisão) chamado de ídolos. Deslocado e a deriva numa grade de programação, os aludidos programas passaram meio que desapercebidos pela população. Ninguém gritou, se mobilizou, chamou amigos para assistir e torcer pelas melhores músicas em casa, os jornais nada disseram, faixas não foram feitas e ninguém sabia uma canção de cor. Da mesma forma, pode-se dizer do programa que teve a “legítima” brasileira Vanessa “Jackson” como “campeã” e hoje cantora de música “pop”. Onde ela está mesmo? É melhor nem comentar de forma mais profunda. Triste.
Gêneros musicais se confundem e a circulação de informação cultural cresceu em demasiado. Existem mais filmes (alguns péssimos é bem verdade!), mais discos, mais pirataria, mais livros (até “Narcisa Tamborandeguy” escreve! – e é assim que se escreve o nome dela?) e mais peças teatrais (várias comerciais) à “disposição” do público. E assim ficou difícil cobrir a área cultural tão ampliada. De tal forma que empobrecido ficou o jornalismo com pouco espaço e uma diversidade enorme de assuntos, caindo na atualidade num jornalismo de “guetos culturais”.
Hoje o número de informações é bem maior e o espaço para divulgação no jornal é o mesmo de anos atrás. A homogeneidade de público não mais existe e um abismo enorme foi criado entre o chamado público “culto” (que domina os repertórios mais antigos) e um público / massa de consumidores vorazes de entretenimento. O resultado disso é que, nos meios de comunicação o que voga e manda são as produções capazes de atrair o universal e a venda de imagens, como Madonna, Jim Carrey, Sandy e Júnior (agora separados em carreira “solo”), Spielberg , Walt Disney, etc e etc.
Poucos são os que observam saites culturais diversificados e procuram por revistas como Caros Amigos, Bravo!, República, Cinema e Cultura. Tanto é verdade que ótimas revistas como a “Palavra” e “Bundas” (Revista do Ziraldo e Cia) saíram de circulação por falta de verba. Na verdade o único espaço que aumenta é o da “Coluna Social” (Colocando na vitrine o “Modus Vivendi” da “High Society”, suas festas privadas a comemorar “nats” e o “petit comité” de fulana e beltrano).
O trabalho dos chamados “críticos de arte” na imprensa perdeu certo caráter reflexivo e questionador que ainda tinha e ganhou um papel e dimensão pragmática de indicação para consumo, com desenhos engraçadinhos de “caras e bocas” indicando palavras como “bom”, “ruim”, “péssimo”, “fuja”, “vá ver” etc.
O que prevalece hoje na contemporaneidade são as combinações, as paródias, as versões, o “remake chique”, é o “making off”, são os efeitos computadorizados e o eterno falar sobre o presente sem questionamentos ou paralelos com o que se fazia no passado. Haja vista, que os movimentos artísticos culturais do passado tinham pretensão histórica de mudança, de revolucionar comportamentos individualistas, de mudar o que estava posto. Havia percepção do antes, do agora e do depois.
A cultura virou mercadoria, sua dinâmica e percepção hoje se baseia apenas em frase e palavras como o bom e o ruim, o novo e o antigo, a criação, o banal e o besteirol. Sem dúvida aumentou a diversidade, mas, diminuiu e muito a riqueza de espírito e a qualidade do fazer artístico e da divulgação disso nos jornais escritos com meia dúzia de palavras e muitas cores exaltando a preocupação com o “design”, o “marketing”, a “diagramação visual” e o “high tech”.
Os chamados “Caderno 2”, “Caderno 3” ou “Caderno B” dos jornais são quase todos iguais na base do “leu um, leu todos”. Raríssimas vezes os jornais escritos investem na força do texto e na inteligência do leitor, tornando-se na maioria das vezes um “jornalismo de agenda”(onde as pautas são ditadas pelos eventos e lançamentos do dia ou da semana) com muita gente estranha ao ofício de jornalista manipulando informações para saírem em destaque eventos “fashion” mercantilistas. Ou seja, as pautas já estão chegando às Redações por “pacotes pagos” por agentes e “promoters”. Até que ponto isto é jornalismo? Não será marketing?
Na verdade, desconfio e ouço declarações de amigos meus jornalistas, que o dito Editor de “Segundo Caderno” (cultural) não detém da mesma autonomia de outrora, operando sem liberdade de ação e sem criatividade. Hoje o Editor de Cultura e amenidades possui a preocupação primeira de “dar um furo no concorrente”, como noticiar primeiro um lançamento de um disco do Caetano ou Marisa Monte. Não existe a preocupação de colocar devidamente aprofundado um assunto interessante e palpitante para os leitores.
A preocupação com o “furo no ou do concorrente” é tão grande por parte dos Editores, que os jornais saem com matérias impressas e feitas nas últimas horas (com menos de vinte e quatro) do tipo “prato feito” e com isso quem perde é o leitor.
A imprensa escrita ficou quase que escrava de uma enorme “indústria cultural”, onde quem manda é quem paga e os intermediários (“promoters”, agentes) estão virando editores dos “segundos cadernos”. Antes se guardava matérias dos jornais como arquivos para uma futura consulta ou como um documento cultural importante e fonte de pesquisa. Não existe espaço para qualquer polêmica, questionamento ou discussão. Estamos meio que condenados a um modelo de “jornalismo” de descrição de eventos, divagação sobre o entretenimento da semana e a agenda de variedades, quando isso deveria existir, mas, não em primeiro plano e em espaço enorme.
Chega-se ao cúmulo do “jornalismo cultural” existir palavras cruzadas, receitas culinárias e fofocas da TV. Não estamos acostumados ao que vem a ser melhor. Não mais sabemos distinguir o que é real do que é marketing; o que é artificial do que é visceral e decisivo na vida. Estamos acostumados a rotular “moderno”, “chique”, “elegante” ou “fotogênico”. Muitas vezes, quando alguém opina sobre um livro, leva-se quase todo o chamado “segundo caderno”, acreditando o jornal que isto sim, é “jornalismo cultural”. Absurdo!
Este tipo de “jornalismo cultural” não leva a nada e não acrescenta em nada o fazer cultura – muito pelo contrário – reduzindo idéias inteiras em pequenas frases para caber no parágrafo, criando slogans e frases feitas a ridicularizar o pensar e a idiotizar as pessoas; de tal modo, que esse poder hipnótico dos chavões dos jornais escritos atuais se sobrepõe à inteligência, onde, muitas pessoas das “classes falantes”, começam a acreditar mais nos papéis estereotipados que representam ante a mídia “fashion” do que na percepção direta que possuem da sua própria situação existencial.
Pluralismo sim, barbárie e pragmatismos não! Que tragam, falem, questionem, escrevam, retratem e explanem sobre o erudito, os folclores, as óperas, o forró, o teatro, o cinema iraniano, a moda, literatura, samba, geografia, expressionismo, o abstrato, a dança contemporânea, as artes plásticas, o “pop”, as exposições dos neo-expressionaistas alemães, 100 anos Portinari, Fotografias de D. Pedro II, Napoleão Bonaparte, sobre poesias de Lorca, as “raves” com Fernanda Porto e “DJ Patife”, a música “brega” gravada por Caetano Veloso, a “melosidade” de Jorge Vercilo, à volta dos anos 80 . . . Mas, com espírito crítico, com fundamentação, sem conchavos, sem chavões, sem slogans, mais páginas para o caderno cultural . . . e assim, quem sabe, quem sabe......
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