sábado, 10 de julho de 2010

A ÁFRICA DO SUL SERÁ AQUI?










A COPA DO MUNDO DE FUTEBOL da ÁFRICA DO SUL (2010) acabará amanhã (11/07/2010) após o jogo final entre ESPANHA X HOLANDA e algumas perguntas vêm à tona e ficam no ar. Parafraseando a música de Caetano Veloso e Gilberto Gil, pergunta-se: A ÁFRICA DO SUL será aqui?

A pergunta procede e eu explico. Como em todas as Copas, desde o ano de 1978 aprendi com meu pai, irmão e parentes a gostar da Copa sob os diversos enfoques e nuances. Desde colecionar os famosos álbuns de figurinhas dos jogadores de futebol, aos aspectos geográficos dos países sede (modus vivendi, economia, organização política, formação geológica, etc), bem como, os bastidores. Não é a toa que escolhi como atividades profissionais o fazer artístico e o jurídico: Advogado e ator.

Nesta copa do Mundo de 2010 na África do Sul, graças à DEUS, ao acesso fácil da internet, canais de TV a cabo e revistas de diversas linhas editoriais tive a oportunidade de fazer valer meu espírito investigativo à procura das verdades daquele país fugindo aos estereótipos e ¨notícias Globais¨ transmitidas dos jornais televisivos.

Após assistir reportagens abalizadas e abrangentes da equipe de Jornalismo da ESPN BRASIL, me peguei embasbacado e indignado, por exemplo, com o sumiço de boa parte da população pobre da Cidade do Cabo, escondida dos turistas em bairro criado pelo Governo em região cercada e de difícil acesso, sem qualquer infra-estrutura (falta de esgoto), alojada em Barracos de lata (¨Cidade de Lata¨ - feitos de folhas de zinco). Pessoas expostas ao frio e ao calor abaixo da linha de pobreza sem qualquer cuidado.

Observando as páginas de jornalismo sério mundial, na verdade, constata-se que a sombria realidade sul-africana não se findou apenas porque o país de Nelson Mandela, Biko e do Bispo Desmond Tutu sediou a Copa do Mundo de Futebol de 2010. Quando a maior festa do futebol mundial se findar na data de amanhã e os campeões (europeus) forem recebidos nas ruas de seu país, bem provável que os sul-africanos iniciem um processo de esquecimento por parte do Globo Mundial, longe dos holofotes da mídia e da Fifa.

3,5 bilhões de euros (o equivalente a cerca de R$ 10,5 bilhões) foram investidos pelo governo do presidente Jacob Zuma na construção de dez estádios (estimados em 120 milhões de euros, ou cerca de R$ 360 milhões), telecomunicações, linha férrea, construção de aeroporto internacional e recrutamento de 40 mil policiais. Pergunta-se: O que realmente será incorporado como investimento permanente e em benefício de um país ainda tomado pela violência, tensão racial, pobreza e corrupção?

Dos ¨ não sei quantos mil¨ empregos criados para o período de pelo menos quatro anos, sabe-se que a maioria não permanecerá empregada, o que poderá agravar ainda mais a elevada taxa de desemprego dos já 25% (vinte e cinco por cento).

A Copa do Mundo, após os comentários sobre a leveza da JABULANI, os erros grosseiros dos árbitros de futebol, do futebol burocrático pouco criativo do BRASIL, do barulho ensurdecedor das VUVUZELAS, da simpatia do povo africano, dos engarrafamentos imensos nas ruas, da musicalidade e da indiferença da FIFA com os problemas sociais, se tiver alguma conseqüência é provável que não seja de crescimento local. Isto é uma tapa na cara de todos aqueles que vivem num país marcado por uma pobreza extrema e com uma taxa de desemprego que gira em torno de 40%.

Nos últimos cinco anos, os trabalhadores pobres continuaram vivendo enormes desigualdades sociais, existindo, em todo o país, milhares de manifestações para exigir serviços básicos (água, eletricidade, saúde...) e habitações dignas, sem muita divulgação da imprensa mundial. E ao final, o governo acabou por reconhecer, que "nunca foi a sua intenção" que este projeto chamado Copa do Mundo fosse beneficiário em termos sociais, diferentemente do discurso de preparação e concorrência para sediar.

O que se constata é que a África do Sul precisa urgentemente de infra-estruturas públicas em grande escala, principalmente na área dos transportes públicos (quase totalmente ausentes em algumas cidades, como a própria Johanesburgo). O único trem bala (Gautrain) lançado em junho deste ano (2010) é uma ironia disto: Transporte de luxo para turistas e para aqueles que viajam entre Johanesburgo e Pretória (distante apenas 54 km).

Sabe-se nos sites de notícias internacionais que em Johanesburgo, mais de 15 mil sem-teto e crianças de rua foram apanhadas e colocadas em "abrigos" na cidade de Cape Town, bem como, milhares de pessoas das zonas pobres e das favelas perto de alguns estádios foram despejadas de suas casas sem receber indenizações. Na região do Soweto, as estradas foram maquiadas ao longo das rotas turísticas e da sede da FIFA, enquanto as escolas ao redor continuam com as janelas quebradas e as instalações em situações precárias.

Os postos de trabalho que foram criados são precários e na grande maioria de duração determinada, por trabalhadores que não são sindicalizados recebendo salários ínfimos e abaixo do salário mínimo. Enorme foi a repressão contra os sindicatos e os movimentos sociais foram literalmente hostilizados pelo Estado, existindo a proibição geral de protestos durante a Copa do Mundo. NADA OU QUASE NADA disso foi divulgado.

A FIFA, por sua vez, arrecadou mais de 1 bilhão de Euros solamente com os direitos de transmissão televisiva. Os estádios e as zonas circundantes foram entregues à FIFA durante o período do torneio. A FIFA, como proprietária exclusiva da marca Copa do Mundo e dos seus produtos derivados, mantém uma enorme equipe de profissionais (advogados, produtores, fiscais) que percorrem o país procurando por pontos de venda não autorizados de produtos licenciados. Os produtos ¨pirateados¨ são apreendidos e vendedores presos. Tudo sem levar em consideração que a maioria da população se vale do mercado informal na compra de seus pertences. Bem parecido com o Brasil.

Muitos jornalistas foram impedidos de exercer o ofício com a inclusão formal de cláusula no credenciamento que impedia críticas abertas à Entidade (FIFA).

Hoje, o futebol traz lucros exorbitantes para um pequeno grupo da elite mundial e nacional através de agentes parasitários. Sabe-se que a responsabilidade social é do governo organizador, porém, a FIFA e seus patrocinadores, usufruem de lucros decorrentes dos jogos e eventos. Cabe a FIFA parcela de responsabilidade para mudar a realidade social.

E aí, será que a ÁFRICA não é aqui?

Palavra de quem não cumpre.

Difícil reconhecer quando determinadas verdades saem da boca de desprovidos de admiração.




¨Nós temos leis, temos consultas, temos resoluções, uma infinidade de dispositivos legais que incorrem naquilo que Montesquieu dizia:
Muitas Leis, nenhuma Lei.¨
(Mr. José Sarney, sobre a reforma do Código Eleitoral).