terça-feira, 15 de maio de 2007

BALADA INFERNAL DE CHEIA OU... UMA RUMA DE GENTE NA "CURTIÇÃO".




*Obs: Ruma – Palavra que significa no Ceará o mesmo que Monte; mói; magote, conglomerado de coisas, bichos ou de gente; no bolo; no total; touceira; carrada. Um bocado de coisa, um exagero, grande quantidade.

Segundo Luís Fernando Veríssimo, quando estivermos com dificuldade para começar uma crônica, devemos apelar para um velho provérbio Chinês. Quando não tivermos um velho provérbio Chinês para começar uma crônica, devemos inventar um. Então pensei e me veio esta pérola: “Diversão para jovem e para Paulistano, tem que ter dificuldade para estacionar o carro, ingresso caro, fila imensa para entrar, cerveja quente e impossibilidade de locomover-se no espaço, bem como, comunicar-se com o próximo.”

Em primeiro momento e instante, pode parecer um provérbio meio preconceituoso e politicamente incorreto. Mas, com a devida paciência, tentarei explicá-lo e esclarecê-lo. Certamente alguns irão concordar e até achar simpático meu provérbio; outros irão concluir que sou um “rabugento” ou um sujeito “antipático”. Mas, por favor, definitivamente não se trata disso.

Passei boa parte de minha adolescência e juventude (ainda me considero “um cara jovem e conservado!”) saindo para me divertir em grande constância com a “tchurma” para as “baladas”, “curtições” ou “Sons” na cidade de Fortaleza e nunca me senti um “revoltado” ou coisa que o valha. Muito pelo contrário. Sempre fui tranqüilo, paciente e disposto a estar com meus colegas e amigos em qualquer lugar. Era considerado um sujeito de fácil adaptação aos lugares e de ótima circulação em todos os ambientes (“Patricinhas”, “mauricinhos”; “Bichos-Grilo”; “Galera do Mal”; “Góticos”; “Hippies”; “Yuppies”; “mundiça”; “Canelau”; “GLS”; “forrozeiros”; “pagodeiros”; “Direitistas” e os “alternativos” de um modo geral).

Pois é. Agora, morando na Cidade de São Paulo e já adentrado a casa dos “trinta e poucos” de idade, me vejo e me pego a sentir a gostosa e prazerosa necessidade de “desacelerar” minha mente e meu corpo. Como diria “Seu Manel da Mercearia”, lá do Bairro do Parque Araxá em Fortaleza: “Sosseguei o facho e baixei o faniquito”. Ou seja, Estou querendo mais mansidão e calma no meu lazer. Chamam isso de “velhice”, “maturidade” e até de “lerdeza” mesmo.

Bom, realmente não sei diagnosticar o que vem a ser isso, nem conceituar tal processo. Não me sinto velho, nem lerdo e muito menos rabugento. Apenas, quero provocar e tentar explicar meu precioso provérbio fundamentado nas minhas andanças, leituras e vivências em Fortaleza e até hoje na Cidade de São Paulo.

Sempre me considerei um profundo observador do gênero Humano, buscando sempre tentar ler as pessoas para, quem sabe, achar um entendimento sobre mim mesmo. Até hoje, não consigo me entender. Por isso mesmo, continuo a observar os outros.

Quando cheguei em São Paulo, não foi difícil perceber e constatar profundas diferenças sócio-culturais, de hábitos, de manias, de costumes, de paisagens e dos caminhos para diversão da população. Porém, no que diz respeito ao quesito diversão e lazer, pode-se concluir e perceber que Jovens de Fortaleza e Paulistanos possuem diversos pontos em comum, dadas as devidas proporções, é claro.

Após dias de estudos intensos e trabalhos rígidos, chega-se ao tão sonhado final de semana para “descansar” e “curtir” momentos de alegria e prazer. Quais opções? São diversas: Praia, Shopping Center, Cinema, Parques de Passeio com áreas verdes, Calçadão da Orla, Barzinhos, casas de show, boates, etc. Que maravilha!! Ocorre que, para se divertir com estas opções será preciso passar por um caminho de obstáculos desafiadores e algumas vezes, sem lógica e até contraditórios: Filas imensas, horas de espera em cinemas, restaurantes, boates e casas de show, faltam estacionamentos, conflitos com “flanelinha”, ingressos com preços exorbitantes e obrigando consumação mínima (flagrante desrespeito ao consumidor!); falta de cadeiras nas barracas de praia e nos barzinhos, trânsito intenso, lugares intransitáveis e o despreparo no bom atendimento aos clientes.

Vejamos o seguinte: Faremos um pequeno paralelo entre os jovens de Fortaleza e dos Paulistanos – de uma maneira não muito científica – para avaliarmos, através de meu provérbio, minha possível “loucura” e “devaneio” ou minha coerência e assertiva.

Em Fortaleza, os jovens passarão...

1) 45(quarenta e cinco) minutos – no mínimo – no trânsito (trajeto de ida e volta) para chegar até a famosa e gostosa “Praia do Futuro”;

2) Levarão mais 25 (vinte e cinco) minutos para encontrar uma vaga para o carro, pois, apesar de já estarem na orla, os jovens de Fortaleza, preferem somente umas 4(quatro) barracas de praia que são consideradas “points” de encontro e de possíveis paqueras;

3) Levarão mais 25 (vinte e cinco) minutos para encontrar cadeiras nestas “escolhidas” barracas de praia, com direito a ficar em pé na areia quente sob os olhares de “afortunados” que já conseguiram um lugar;

4) Levarão mais 20 (vinte) minutos para serem devidamente atendidos na barraca de praia “escolhida” onde terão o direito de consumir cervejas e refrigerantes quentes ;

5) Levarão 10 (dez) minutos na fila para o chuveiro de água doce na barraca de praia “escolhida”;

6) 5(cinco) minutos de discussão com o “flanelinha” que “guardava” o carro;

7) Na opção restaurante, levarão 15(quinze) minutos para espera por uma mesa no almoço;

8) Se no final da tarde desejarem ir para o calçadão na orla marítima de Fortaleza (Volta da Jurema ou Beira Mar), levarão mais 25 (vinte e cinco) minutos para estacionarem o carro;

9) No turno da noite, se os jovens Fortalezenses, decidirem pegar um “cineminha no Shopping” levarão 15(quinze) minutos para encontrar uma vaga no estacionamento, passarão mais 25 (vinte e cinco) minutos na fila para comprar ingresso e entrar na sala de exibição;

10) Após o cinema levarão mais 5(cinco) minutos para pagar o estacionamento;

11) Caso decidam ir para a “night”, passar um tempo em barzinhos da Praia de Iracema, Centro Dragão do Mar ou os que ficam perto da Av. Dom Luís, levarão mais 20 (vinte) minutos para estacionar o carro;

12) 10(dez) minutos para encontrar uma mesa;

13) 30 (trinta) minutos para serem atendidos (contando o atendimento inicial e final) no referido barzinho “da moda” e mais 05(cinco) minutos de discussão com o garçom que, provavelmente, calculou errado a conta de consumo da mesa;

14) Caso decidam ir para boates ou casas de show, levarão mais 25 (vinte e cinco minutos) na fila para compra de ingresso e irão consumir cervejas e refrigerantes quentes; terão dificuldades de deslocamento no interior e dificilmente conseguirão trocar duas palavras com conhecidos;

Ao final deste “dia de lazer” em Fortaleza serão consumidos mais de 305 (trezentos e cinco) minutos ou um pouco mais de 05 (cinco) horas do dia, somente nos preparativos e não na diversão propriamente dita.

Em São Paulo, os Paulistanos – me refiro aos jovens e adultos de uma forma geral – levarão...

1) Cerca de 30 (trinta) minutos na fila de café da manhã da padaria;

2) De 20(vinte) a 30(trinta) minutos no trânsito para chegar no Parque Ibirapuera ou no parque Villa Lobos para caminhar, “pegar um sol”, andar de bicicleta, etc;

3) 20 (vinte) minutos para conseguir encontrar uma vaga do carro nos referidos parques de passeios e diversões;
4) 5(cinco) minutos de conversa e negociação com o “flanelinha”;

5) Levarão cerca de 30 (trinta) minutos no trajeto para o restaurante;

6) Cerca de 1 (Uma) hora e 20 (vinte) minutos de espera por uma mesa no restaurante que se deseja almoçar;

7) 20 (vinte) minutos de espera para atendimento;

8) Se decidirem ir para o Shopping, levarão mais 20 (vinte) minutos de trânsito;

9) 20 (vinte) minutos para encontrar uma vaga no estacionamento do Shopping;

10) De 25 (vinte e cinco) a 45 (quarenta e cinco) minutos na fila da bilheteria do cinema;

11) Depois do cinema, para chegar nas boates, levarão cerca de 01 (uma) hora no trânsito e mais 20(vinte) minutos para estacionar;

12) 01(uma) Hora e 30(trinta) minutos na fila para entrar na boate;

13) Não conseguir transitar dentro da boate, muito menos dançar, nem tampouco, trocar uma palavra com alguém, em face do alto volume do “bate-estaca” rolando no interior da boate;

Ao final deste “dia de lazer” do jovem paulistano serão consumidos cerca de 450 (quatrocentos e cinqüenta) minutos ou um pouco mais de 07 (sete) horas e meia do dia, somente nos preparativos e não na diversão propriamente dita. E dependendo do dia, o estresse em São Paulo com o tempo pode ser maior. Este dia relatado e calculado, corresponde um dia normal de final de semana, sem colisões no trânsito, sem paralisação para recapeamento de pista ou reforma de túnel, nem perto do natal ou feriados.

O mais incrível e curioso neste relato e constatação é que a “filosofia” adotada pelos jovens – vindo a reiterar meu provérbio – é a seguinte: “Se a fila estiver grande e local cheio de gente é porque o local é bom”. Este é o raciocínio prodigioso. Este gosto é quase cultural. O jovem paulistano, principalmente, quando vê uma fila enorme, procura parar e já querer entrar naquele local, sem saber o que está “rolando” ou acontecendo lá.

Bom, depois de toda esta explanação e deste “pobre” ponto de vista externado, acredito ter tentado fundamentar a procedência de meu “provérbio”. Estou correto ou errado?

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