domingo, 24 de outubro de 2010

DO ATO DE VIAJAR



Segundo Fernando Pessoa: "Para viajar, basta existir!"

De forma não menos sábia, asseverou e aconselhou o portentoso Mário Quintana em "A Verdadeira Arte de Viajar":

"A gente sempre deve sair à rua como quem foge de casa,
Como se estivessem abertos diante de nós
 todos os caminhos do mundo.
Não importa que os compromissos, as obrigações, estejam ali...
Chegamos de muito longe, de alma aberta e o coração cantando!"

O ato de viajar consiste em desplugar do cotidiano, mudar o contexto vivido naquele momento, partir para outras dimensões, atravessar portais secretos do imaginário, anuviar a mente com passeios em paisagens já visitadas e outras tantas ainda não conhecidas ou exploradas... Reparar neurônios, estabelecer novas sinapses para carimbos de alegria no passaporte (seja físico ou mental) e transformar-se em outras pessoas.

Quando morei em São Paulo por uns seis anos, me peguei descobrindo um olhar bem diferente que minha mente embotada das notícias dos jornais que não deixavam ver, ter e constatar. Lembro muito bem, da minha alegria de moleque ao constatar Lindos verdes em meio ao cinza que diziam ser aquela cidade mega. São Paulo é Linda!!

Mas, o despretensioso artigo não se presta para falar de São Paulo somente. Mas, do ato de viajar! Como precisamos viajar!! Como é salutar apurar o olhar para a palmeira que segura um lindo ninho de sabiá em sua ponta, bem alí, perto de casa e dos altos prédios.

Quando, de fato, conseguimos viajar literalmente, no sentido de se deslocar de sua cidade residencial para outra diferente do seu dia a dia e "modus vivendi"... Acontece algo mágico, como um clique de "liga/desliga" ou "stand by/program" conosco. Incrivelmente não só podemos, como nos transformamos em outro(s). De repente, não mais que de repente, perdemos a vergonha como num agitar de varinha de condão!!

Ao viajarmos percebemos que fazemos e podemos fazer coisas / atividades que "normalmente"não faríamos e ampliamos nossos horizontes. Nosso olhar fica mais apurado, o olfato sente todas as fumaças e perfumes distantes... E tudo se torna belo, novo!!

Instigados, compramos o jornal local, procuramos diversões programadas, passeamos de bobeira, provamos dos quitutes da região, adquirimos artesanatos, tiramos fotos, captamos imagens e guardamos cravadas em nossa mente, sorrimos mais, conversamos com o motorista de táxi, com o motorista do ônibus, decoramos letreiros, andamos imensos quarteirões, visitamos praças, cortamos cabelo, sentamos em banquinhos com pernas abertas para o sorvete não pingar na calça, conhecemos personagens, vestimos roupas mais ousadas, nos sentimos potentes, somos solícitos e prestimosos... Deixamos seguir a intuição e até adiamos a volta ao lar e ponto de partida.

Sentimos a mesma sensação de um sonho realizado. Divertimos-nos abestalhadamente na melhor acepção que esta palavra traga sobre a falta de importância ao apego material.

Enfim, olharmos o mapa de sentirmos que somos de outro lugar.

Mário Quintana nos convida para sermos turistas de nossos quarteirões e ruas.

Como é bom viajar!!

Um comentário:

Anônimo disse...

Curti demais. Tb penso assim.